sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O que acontece por dentro




Certo dia empurrei o sofá pro canto
Tirei aquela cortina que você gostava e coloquei pra tomar um sol.
Aliás, sol é que não falta nessa cidade.

Rasguei todos os papéis-de-parede. Queria uma cor nova. Um amarelo, talvez.

Foi engraçado tentar pintar a parede sem nenhum tipo de malemolência da minha parte. Devo ter gastado boa parte sobre os jornais que espalhei pelo chão.

Abri bem as portas e todas as janelas, precisava que ficasse mais arejado, precisava que aquele cheiro de tinta saísse.

Estendi aquele tapete onde você nunca se sentou comigo, comendo pipoca e assistindo àquele filme. Até combinou com as almofadas.

Acabei organizando os livros do mais antigo para o mais novo. Vi que muitos deles eu não li realmente, alguns eu comecei pelo prefácio, outros comecei pelo fim.

Sentei no meio da sala, respirei fundo, olhei tudo aquilo, tudo que juntei ao longo do tempo, minha poltrona já despedaçada pelas ranhuras do meu gato, que achava que aquele móvel era dele.

Observei a maneira como guardo meus sapatos, meus cachecóis e até como cubro a cama com a colcha de retalhos que ganhei da vó.

Senti uma leve brisa, olhei para o quadro meio torto na parede amarela. Talvez alí não seja o melhor lugar para ele estar, mas foi alí que ele quis ficar.


Reparei que nada daquilo existia realmente senão dentro de mim. O quadro, os livros, a poltrona, a parede, o tapete, a pipoca, as flores (que eu nem te contei do perfume que eu sentia delas) e nem você.


2 comentários:

  1. A música é a cara do post! E ambos são de uma melancolia gostosa de ouvir/ ler!... Mas me responde só uma coisa? o que é real msm? =)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mi, só essa cor que você enxerga ao ler o texto é real. ;)

      Excluir

oi. =)